sábado, 27 de março de 2010

Olha que sinceramente! Ainda bem que o julgamento acabou!

Deixa eu contextualizar gente: Há cerca de dois aninhos, uma pobre garotinha foi surrada pelo pai e a madrasta malvada e atirada pela janela do prédio. A criança indefesa morreu, lógico, e depois disso a televisão brasileira ganhou um dos maiores banquetes que o jornalismo tupiniquim já recebeu: O caso Isabella Nardoni.
|Fim da restrospectiva|

Alexandre Nardoni e Carolina em entrevista concedida há dois anos exclusivamente a Rede Globo.

Ontem (26/03), dois anos depois de serem presos, a sentença do julgamento dos "monstros" saiu, cerca de 30 anos para o pai, e 25 para a madrasta. Mas o que eu quero discutir aqui não é a culpa, se eles são culpados ou não, e provavelmente são. Eu vou dizer minha impressões sobre o circo armado pela mídia televisiva, principalmente, em cima do desfecho do caso.
 Hoje, acompanhei o Jornal Nacional e pude novamente me espantar com a possibilidade de uma notícia ser espremida até a última gota. Absolutamente tudo o que diz respeito ao encerramento do caso foi abordado nessa edição: desde o heroísmo do promotor à casa pixada dos pais e vizinhos de Alexandre Nardoni. E eu me pergunto: A mídia cumpriu seu papel? Será que é papel da televisão se apossar de uma tragédia para tentar comover o público? Os meios de comunicação tem o direito de se infiltrar em todas as camadas e níveis do processo de julgamento afim de proporcionar um espetáculo? E o pior, não aconteceu mais nada de relevante neste país, que não dissesse respeito ao julgamento dos Nardoni?
Eu pude ver gente emocionada no Jornal Nacional, gritando por justiça; A multidão avançando sobre os caminhões que levavam os condenados; O promotor argumentando ter sido guiado pela opinião pública; O garoto que veio do Piauí ver a justiça se cumprir, tudo devidamente registrado pelas câmeras das emissoras de tv. Ou seja, teve de tudo que um bom circo deve ter, teve palhaço, picadeiro, equilibrista e domadores de feras, como os policias que tentavam conter a multidão revoltada.

Só tenho duas coisas a dizer:
1ª) Há milhares de Isabellas pelo país inteiro. Que não são atiradas pela janela do apartamento de classe média alta, mas que sofrem violência doméstica, sexual, psicológica e nada disso vira um grande caso policial televisionado. Onde está o comprometimento com a denúncia tão enfatizado pelos telejornais? Onde está a comoção pública diante das meninas pobres das favelas deste Brasil afora?
2ª)Uma senhora no mesmo Jornal Nacional de hoje dissse que "no país de tanta coisa errada a condenação significa que ainda há justiça". Sinto muito lhe informar querida, mas não há não. Esse sentimento de justiça que se cumpre é uma ilusão típica de quem assiste um show de mágica, sabia? Quando um mágico apenas tira/coloca um coelho na cartola, ainda existem milhões de coelhos  que estão presos/livres, e todos dependem da escolha do mágico Bonner pra fazer parte da mágica.



Justiça? Os nardonis estão presos, mas e os outros coelhos?

Um comentário:

  1. Muito bom o textoo... O engraçado é que na mesma época que a Isabella morreu ocorreram casos semelhantes no Brasil e ninguém nem ouve falar dos culpados.

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